Como os Muros da Gávea viraram um museu a céu aberto, reunindo arte, história do remo, ídolos e a força da torcida rubro-negra
Os torcedores e quem passa pela ligação Lagoa-Barra agora encontram uma galeria urbana inusitada, que ocupa 274 metros e resgata memórias do clube em celebração aos 130 anos do Flamengo. O projeto dos Muros da Gávea transforma o espaço da Rua Mário Ribeiro em uma continuação da sede social, com pinturas que misturam história, cultura popular e reverência à Nação.
O projeto, a curadoria e os artistas
A curadoria foi coordenada pelo Patrimônio Histórico do Flamengo, em parceria com o coletivo Negro Muro, e convidou seis artistas para compor a sequência de murais. A proposta é abrir leituras distintas da identidade rubro-negra, conectando o clube às suas origens no remo, à paixão da torcida, e a referências da cultura brasileira.
As obras iniciais apresentadas incluem “Mística”, de Mateu Velasco, que retrata um urubu em xilogravura para unir tradição, cultura popular e a energia do clube, e “Nação”, de Gugie Cavalcanti, que reforça a presença mítica da torcida como força motriz do Flamengo. O coletivo Negro Muro assina “Ele vibra, ele é fibra”, homenagem a Érica Lopes (Gazela Negra), Leônidas da Silva (Diamante Negro) e Ary Barroso, conectando esporte, dança e música. Dolores pintou “O manto e a fé rubro-negra”, celebrando o Manto Sagrado, a voz histórica de Apolinho e a devoção da Nação. Acme trouxe “Galinho de Quintino, Buck e a Maior do Mundo”, posicionando Zico e fazendo tributo a Guilherme “Buck”, ícone do remo, enquanto Bruno Big assinou “O alvorecer magnético”, que destaca as origens do clube no remo e os barcos de nomes indígenas.
Significados e leituras da identidade rubro-negra
Os murais buscam ampliar o diálogo entre arte e paixão pelo Flamengo. Ao reunir obras que vão do urubu em xilogravura às referências ao remo, a iniciativa quer mostrar que a identidade rubro-negra não se reduz ao futebol, mas permeia música, dança, memória e devoção coletiva.
Ao colocar na rua imagens de ídolos, símbolos e episódios históricos, os muros atuam também como registro visual do patrimônio do clube. A diversidade de estilos e temas evidencia diferentes leituras da história, ressaltando que a Nação é plural, e que arte e memória podem dialogar com o cotidiano urbano.
Inauguração, autoridades presentes e declarações
A inauguração dos muros integrou a programação dos 130 anos do Flamengo, com uma alvorada pela manhã, e um café da manhã no remo. Entre as presenças na sede, estavam o presidente do clube Luiz Eduardo Baptista, conhecido como Bap, o vice-presidente geral e jurídico Flávio Willeman, e o ex-presidente George Helal, lembrado pela aquisição do terreno do Ninho do Urubu.
Na cerimônia, Bap destacou o impacto visual e simbólico da transformação, com uma declaração que sintetiza o sentido do projeto, ele disse, “Os muros não tinham vida nenhuma. Agora, a cidade ganhou uma nova vida. Isso é uma homenagem à história do Flamengo. A ideia é ter, em cada mês, uma pintura nova. É um museu a céu aberto.” — Bap, em inauguração da nova pintura dos muros da sede do Flamengo. @colunadofla pic.twitter.com/FqbDuIuxRO
A promessa de manter pinturas novas mensalmente reforça o caráter dinâmico do espaço, que pretende sempre trazer conteúdos e homenagens diferentes, mantendo o diálogo entre o clube e a cidade.
O que muda para a cidade e para a Nação
Além do valor simbólico para torcedores, a intervenção urbana amplia o repertório cultural da Gávea e da ligação Lagoa-Barra, oferecendo à população um percurso de arte pública. O projeto também tem potencial de ativar debates sobre preservação do patrimônio, inclusão de referências afro-brasileiras e reconhecimento de figuras históricas do Flamengo que atuaram fora dos gramados.
Os Muros da Gávea chegam como mais um elemento nas comemorações dos 130 anos, conectando remo, futebol, torcida e cultura popular. A obra coletiva tende a ser ponto de visitação para torcedores e curiosos, ao mesmo tempo em que reforça a narrativa de que o Flamengo é, além de clube, um fenômeno cultural.
Com a curadoria do Patrimônio Histórico e a assinatura de artistas contemporâneos e do coletivo Negro Muro, a iniciativa transforma muros que eram apenas limites físicos em um espaço vivo de memória e expressão. A expectativa declarada pelos responsáveis é que novos painéis mantenham a Rua Mário Ribeiro em constante renovação visual, consolidando a ideia de um museu a céu aberto que celebra a história e a torcida rubro-negra.